quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PAPO RETO entrevista

A Literatura Infantil precisa de mais espaço na Feira

Professora de Teoria Literária vê com algumas ressalvas as encenações de leituras literárias e vê ainda pouco espaço para a Literatura Infantil na Feira do Livro

Elaine Oliveira, professora de Teoria Literária


Professora de Teoria Literária da Universidade da Amazônia (UNAMA), a professora Elaine Oliveira conversou com a equipe LND na Mídi@ sobre o espaço dedicado à Literatura Infantil e as encenações de leituras sugeridas para o vestibular na XV Feira Pan-Amazônica do Livro. Muito solícita, a professora Elaine conversou com a gente no espaço Ponto do Autor.

LND na Mídi@: Qual a importância para as crianças de uma feira como esta?
Elaine Oliveira: Olha, primeiro é preciso lembrar que o Brasil é um país que tem uma história de exclusão social em todas as áreas, e não só no livro. Mas, quando a gente vê uma feira como essa, tenho a percepção de que a criança, assim como o adulto, estão tendo a chance de ter acesso a um bem cultural, que lhes foi negado durante muitos anos. Uma feira é a oportunidade de a criança se aproximar do livro. A Feira é, portanto, uma oportunidade importantíssima para democratizar a leitura.
LND na Mídi@: Você concorda com a ideia de que a Feira oferta mais o objeto livro do que situações de prática de leitura?
Elaine Oliveira: Bem, leitura é um processo que tem a ver com a escola, a formação do professor, a família... A Feira é apenas um momento, uma cadeia desse processo. Portanto, a leitura não depende só da Feira.
LND na Mídi@: A Feira, de fato, é um evento que fomenta o incentivo à leitura?
Elaine Oliveira: Sim, fomenta. Mas, como eu já disse, a Feira é apenas uma peça da cadeia. Só ela não resolve, porque, por exemplo, uma coisa é o aluno assistir a uma peça teatral que encene uma leitura de vestibular, outra é ele ter acesso ao livro, ao texto escrito dessa leitura. É uma outra linguagem, uma outra alfabetização. Tanto é que eu tenho discutido muito essa questão do letramento literário, porque as pessoas, no Brasil, estão cada vez mais longe do código literário, ou seja, são “analfabetas literárias”. Eu tenho abraçado uma campanha nacional “Por um Brasil literário”. Não se trata de ler qualquer texto, mas de literatura: romance, poesia. Então, é preciso compreender o código literário, que é diferente de assistir a um filme ou a uma peça teatral. Peças teatrais como essa que a gente tem visto aqui na Feira é uma facilitação que afasta a pessoa do texto literário, o que não deixa de ser uma forma de exclusão, porque fica uma coisa para poucos: só poucos “iluminados” é que sabem interpretar um texto literário. Logo, o caminho tem que ser da literatura para a outra linguagem e não o inverso. É nisso que eu acredito.
LND na Mídi@: E o espaço dedicado à literatura infantil na Feira? O que você tem a dizer sobre essa questão?
Elaine Oliveira: Bem, eu tenho visto poucos espaços para a criança aqui na Feira. Eu vejo um espaço infantil, mas é para vender livro, alguma animação, mas não vejo estandes com uma especialidade no texto infantil. Isso ainda não é literatura. Mas, como eu disse, a Feira não resolve. Depende também do professor, da escola, da família. A Feira é apenas um grandioso passo, mas se ficar só aqui, não vai se resolver nada.

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