Formação é o momento de reflexão sobre a prática docente e de qualificação dessa prática
Professora Mestre em Estudos Literários fala sobre a importância das formações continuadas e do trabalho com a leitura na escola
A Professora Msc. Sônia Santos concedeu entrevista à equipe do LND na Mídi@, logo após o término de formação dirigida a professores da área de Linguagens e Códigos. Muito simpática e interessada no nosso projeto, a professora Sônia nos recebeu no auditório onde acabara de ministrar formação sobre leitura. Ela falou sobre a importância da formação continuada de professores e do trabalho com a leitura na escola.
Lenilson Silva: Professora, qual a importância de trabalhar a formação continuada de professores?
Sônia Santos: Bem, o educador é um estudante em constante processo e necessita obviamente de estar buscando formação, leituras diferentes, refletindo sobre sua prática. Quando a escola proporciona esses momentos de formação para o professor, ela está dando a oportunidade de ele se auto-avaliar, refletir sobre suas práticas e consequentemente qualificar seu trabalho. O Luiz Nunes Direito está de parabéns por possibilitar esse espaço para os seus professores.
Lenilson Silva: Em relação ao letramento, por que trabalhar esse tema na formação?
Sônia Santos: O ensino de linguagem é a base para todos os outros conhecimentos. Inclusive eu comecei essa formação com uma citação de Charles Baudelaire, que dizia “Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria e evocatória”. Com essas palavras, o que é que a gente sugere? Que quem domina uma língua tem poder, então trabalhar essas formas diferentes com a leitura e com a escrita na escola possibilita um domínio maior da língua, possibilita que o professor trabalhe e faça com que o aluno aprenda diferentes usos dessa língua no âmbito social, e com isso possibilitar que esse aluno seja um falante que domine a língua e que também possa fazer essa evocatória, como fala Baudelaire.
Hildson JR.: Professora, você acha que o professor precisa trabalhar mais a questão da leitura na escola?
Sônia Santos: Com certeza. Leitura é o passaporte para o conhecimento. Sem a leitura é incapaz de um de um homem constituir-se enquanto sujeito, enquanto cidadão crítico e participativo na sociedade. A leitura possibilita a visão de diferentes mundos e de um mundo repleto de conhecimentos que só ela é capaz de promover. Além disso, quando se é um bom leitor, provavelmente se será um bom escritor.
Hildson JR.: Como a escola deveria trabalhar a leitura com as crianças e com os adolescentes de hoje?
Sônia Santos: Hoje, nós vivemos num período extremamente complicado quando se trata de leitura. Isso porque a gente tem o livro impresso como referencial da leitura e hoje ele concorre com outras questões desse século, em que a tecnologia evoluiu de tal forma que as imagens vêm bombardeando toda essa criançada e essa juventude, e em que ver uma imagem é muito mais fácil do que ler um texto escrito. E se considerarmos que uma imagem também é texto, até os convencermos a ler ou um romance ou assistir a um filme eles vão mil vezes preferir o filme ao livro. É muito difícil hoje você concorrer com essas diversificadas formas de leitura: a internet, a televisão, o rádio em menor escala e todas as tecnologias que perpassam hoje o nosso século. No entanto, há práticas que podem possibilitar o uso de tudo isso. A escola aqui de vocês, por exemplo, como está utilizando a criação de um blog e de um jornal para divulgar acontecimentos da própria escola, começa a fazer uma prática inovadora. Essa é uma prática inteligente até porque o aluno está vivendo com essas tecnologias e ao mesmo tempo está colocando em prática a sua criticidade, sua capacidade de escrever e, com certeza, quando vocês montam um blog e escrevem uma matéria sobre determinado assunto, vocês vão ter que ler sobre esse assunto. A verdade é que o professor, hoje, tem que transitar pelas diferentes linguagens: se o aluno consegue ler um livro da internet, o e-book, que bom. É uma forma de ele adquirir leitura, mas o livro impresso não perde sua magia, não perde seu encanto, até porque, apesar de você ter que conhecer e acompanhar a evolução da tecnologia, é possível realizar diferentes formas de leitura, promovendo saraus, círculo da leitura, realizar visitas constantes à biblioteca, fazer levantamentos de livros que já foram lidos com os alunos e fazer com que eles tragam para a escola e divulguem para os demais alunos, criando uma espécie de biblioteca móvel, cantinho da leitura, enfim, tem várias técnicas que se pode trabalhar, agora depende muito da concepção da escola sobre a leitura e qual a importância que ela dá a essa prática e como o educador que trabalha nessa área também concebe a leitura e qual a importância disso para sua formação e para a formação dos seus leitores.
Lêda Yumi: Professora, como você avalia a formação de hoje aqui na escola?
Sônia Santos: Na verdade, a formação foi uma espécie de bate-papo. Aliás, uma professora no final fez uma fala que foi bem significativa para mim. Ela disse: “a formação serviu para a gente refletir e reforçar algumas ideias e até mesmo algumas inquietações”. Ora, o professor que não é inquieto não é um professor que busca conhecimento. Rubens Alves diz que a gente tem que ter um “furúnculo” dentro da gente, que em algum momento vai doer, doer, doer... Uma dor que é para, justamente depois ele estourar, nós nos livrarmos da dor. Então a inquietação do ato de educar é igual a um “furúnculo”: você tem que sentir essa inquietação, pois quando você está inquieto é porque você está buscando soluções para a sua prática e porque você está vendo que alguma coisa não está legal ou que você precisa melhorar em alguma outra coisa. E refletir prática docente é uma constante dentro de uma formação. Quando se tem esses momentos, alguns educadores expõem essa vivência, essa experiência que ele vem realizando, as práticas que ele vem aplicando. Isso é bom porque há uma troca, a gente discute, a gente soma. A formação hoje serviu para eu ampliar mais o meu conhecimento, porque a gente, também, aprende nesses momentos, mas para eles (professores), acho que serviu como reflexão, que é o objetivo principal dentro de uma formação: a reflexão do fazer pedagógico.
Lêda Yumi: Qual o papel da biblioteca escolar no processo de fomento à leitura?
Sônia Santos: Assim como o livro é símbolo da leitura, a biblioteca é um espaço mítico no qual a leitura deveria ser espalhada e distribuída como se fosse um “pirlinpimpim” mágico. Infelizmente, por uma questão cultural, historicamente a biblioteca tem se mostrado aquele espaço fechado, silencioso. Klebs diz que a biblioteca parece mais um velório, em que ninguém pode falar alto, ninguém pode falar muito, todo mundo tem que ficar num extremo silêncio; não se pode nem tocar nos livros. Vista dessa forma a biblioteca distancia o leitor do livro. Algumas pessoas que estão nesses espaços acabam reforçando essa idéia, de que a biblioteca é um espaço só para os “ilustres” ou para os “grandes escritores”, ou para os escritores que já morreram. Assim, os livros continuam mortos lá, as vozes não saem deles, porque as pessoas não os leem. No entanto, se ela for bem trabalhada, vários leitores podem se descobrir ali dentro e vários escritores também. Então, para que a biblioteca seja esse espaço de fomento à leitura é preciso que a pessoa que esteja atuando lá haja diretamente como agente de leitura e de cultura. Mas, aí, eu entro novamente na questão da concepção que a escola tem sobre a leitura. A pessoa que trabalha na biblioteca precisa ser também dinâmica, promover concursos de redação, de quem emprestou mais livros no semestre, quem leu mais livros no mês, trazer atores para um bate-papo com os alunos, ou um especialista, em um determinado autor, por exemplo. A biblioteca precisa deixar de ser aquela caverna, que está guardando um monte de coisas místicas e míticas e conhecimentos variados e que precisa de alguém que saia de dentro da caverna para a modernidade para transformar esse espaço em um espaço vivo e não nesse espaço mórbido, parado.
Wlademir Ferreira Filho: Professora, qual é o nível de interferência que a formação do docente tem nesse processo de fomento à leitura?
Sônia Santos: O educador não necessariamente precisa ter um mestrado, um doutorado, pós-doutorado. Ele, principalmente, precisa ser um leitor, e um leitor eficiente ou proficiente como assinalam os PCN. Eu não posso formar ninguém naquilo que eu não sou. “Eu não posso te oferecer maniçoba e dizer que é uma delícia, se eu nunca provei a maniçoba e não sei dessa magia que ela tem”. Então, ninguém oferece e faz propaganda daquilo que não conhece. Não posso dizer que ler é bom se eu não conheço a leitura e as diferentes funções dela. Enfim, para pensar em formação do formador de leitura, em primeiro lugar se tem que partir da sua formação enquanto leitor. Que leitor eu sou? Agora, é obvio, sempre é bom você buscar mais conhecimentos, sempre estar participando de palestras, de eventos que discutam práticas pedagógicas, metodologias de ensino, ler livros que discutem temas atuais e situações que você vivencia na escola. Nessa formação também, é importante considerar os momentos que a escola proporciona como esse de formação continuada
Wlademir Ferreira Filho: Professora, para finalizar, deixe uma mensagem aos alunos do LND.
Sônia Santos: Certo. Eu queria dizer que o homem é um ser de linguagem e que, sem ela, ele não é capaz de se constituir quanto sujeito. Uma forma de manifestação dessa linguagem é a leitura, que ele tem que absorver de todas as formas para se constituir enquanto sujeito. A leitura na vida de um cidadão deveria ser como a água. Cada um deveria sentir sede de leitura todos os dias e matar sua sede com um bom livro. Que todos tenham sede de leitura! Essa é a minha mensagem.
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